Carros autônomos: a tecnologia já está pronta para as ruas?

10 de julho de 2024
Carros autonomos
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Ao longo das últimas décadas, diversos filmes de ficção científica, como “O Vingador do Futuro” e “Minority Report”, apresentaram visões do futuro completamente dominadas pela tecnologia. Nestes filmes, um elemento quase sempre presente era o carro autônomo – um veículo automatizado que dispensa a presença de um condutor humano. Se antes tudo isso parecia ser apenas coisa de Hollywood, agora essa ideia está cada vez mais perto de se tornar realidade. 

Os testes com carros autônomos se intensificaram a partir de 2017, quando diversas fabricantes começaram as rodagens com modelos de automação parcial ou alto nível de automação. Em novembro daquele ano, a americana Waymo, pertencente à Google, deu início a testes com carros autônomos sem a presença de um motorista de segurança. No entanto, ainda havia um funcionário dentro do carro, para intervir em situações de emergências.

Apesar dos avanços de lá para cá, nenhum sistema disponível em 2024 conseguiu alcançar a automação total, na qual a tecnologia controla totalmente o veículo, em todas as circunstâncias, sem qualquer tipo de monitoramento ou interferência remota. 

Nos últimos meses, notícias sobre acidentes envolvendo carros autônomos têm se tornado cada vez mais frequentes. Esses episódios intensificam o debate sobre o real nível de segurança proporcionado por veículos que circulam sem a presença de um ser humano ao volante. As redes sociais estão divididas sobre o tema, tanto em relação ao atual estado de maturidade da tecnologia quanto à possibilidade de que a tecnologia de automação venha a substituir trabalhadores que ganham suas vidas dirigindo. 

Quando veremos mais carros autônomos nas ruas? 

A comercialização de carros autônomos ainda é bastante limitada. Embora a tecnologia avance a passos largos, fazer um carro circular por vias públicas sem um motorista ao volante é um desafio considerável. Portanto, o mais provável é que a popularização desse recurso ainda demore algumas décadas. Empresas de pequeno porte já oferecem serviços de táxi automatizado em áreas restritas, enquanto grandes multinacionais do setor automobilístico, como Mercedes e Honda, atuam de forma muito tímida neste segmento.  

A Waymo oferece, desde 2020, um serviço batizado de “robotáxi”. A disponibilidade, no entanto, está limitada a um perímetro muito pequeno da cidade de Phoenix, no Arizona. Estes veículos são monitorados em tempo real, e engenheiros podem intervir de forma remota para assumir a direção em condições excepcionais. Em agosto de 2024, a empresa anunciou o início de testes com veículos totalmente autônomos, em rodovias de São Francisco. Os testes iniciais serão realizados fora do horário de pico, e com participação de funcionários da empresa. Recentemente, a Alphabet, controladora do Google, anunciou investimentos de US$ 5 bilhões (R$ 27 bilhões) no desenvolvimento da tecnologia de veículos autônomos.  

A Uber também já realiza viagens experimentais com veículos autônomos, em parceria com a Waymo. Este serviço também engloba a entrega de pedidos do Uber Eats na região metropolitana de Phoenix. Recentemente, a plataforma de transporte anunciou que também terá uma parceria com a Cruise, subsidiária da General Motors. A Cruise passou a oferecer um serviço de transporte de passageiros em São Francisco, em 2022, mas o suspendeu no ano seguinte, quando um dos veículos atropelou um pedestre, que ficou gravemente ferido. Após um período afastada deste segmento, a Cruise pretende incorporar seus robotáxis ao Uber a partir de 2025.  

Muitas pessoas fazem a associação de carros autônomos com a fabricante Tesla, do bilionário Elon Musk. A empresa oferece, na verdade, modelos parcialmente automatizados, equipados com um sistema de piloto automático, que assume operações de direção, aceleração e frenagem em determinadas circunstâncias. Os carros da Tesla, no entanto, não dispensam a supervisão humana e exigem a atenção contínua do condutor do veículo. O CEO da empresa havia previsto a introdução de um automóvel totalmente autônomo até o fim de 2023, mas não conseguiu cumprir a promessa. 

Quais são os riscos para a segurança? 

Na internet, uma busca por acidentes com carros autônomos retorna diversos resultados. No entanto, um estudo publicado este ano na revista científica Nature Communications indicou que automóveis autônomos só são mais perigosos que aqueles conduzidos por seres humanos em duas situações: em condições de pouca luz, pois os sensores parecem não estar completamente adaptados para períodos como o pôr ou o nascer do sol, e em trajetos com muitas curvas. 

A pesquisa foi realizada a partir da análise de dados de acidentes automobilísticos na Califórnia, nos Estados Unidos, ocorridos entre 2016 e 2022. Foram contabilizados 2,1 mil acidentes com veículos autônomos e 35,11 mil ocasionados por seres humanos. Os pesquisadores compararam as taxas de acidentes em diferentes cenários e situações, e concluíram que os sistemas de direção autônoma entregam bons resultados em condições cotidianas, como manter a velocidade indicada da via e respeitar o tráfego. 

Uma possível explicação para essa impressão de que os acidentes com os carros autônomos são muito mais frequentes pode estar relacionada à visibilidade que esse tipo de ocorrência tem na grande mídia. Acidentes no trânsito envolvendo motoristas são uma triste realidade que já foi assimilada em nossa sociedade. Por isso, a maioria dos casos sequer é noticiada. Já os acidentes com carros autônomos ainda despertam muita atenção, e acabam ganhando grande repercussão nos sites de notícias e nas redes sociais. 

No entanto, os pesquisadores que analisaram os dados da Califórnia sugeriram que a tecnologia dos carros autônomos ainda não está totalmente madura. Alguns aspectos precisam de atenção das fabricantes, principalmente quanto aos pontos negativos destacados pelo estudo.  

Já a discussão ética em torno da utilização de veículos autônomos é mais complexa e conta com uma extensa lista de argumentos tanto do lado dos entusiastas da tecnologia quanto por parte dos que condenam esse uso. Uma coisa é certa: o debate caloroso em torno deste tema deve avançar na mesma velocidade que o desenvolvimento desses modelos. 

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